O médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, acusado de uma série de abusos sexuais contra mulheres, é considerado foragido da Justiça e seu nome foi incluído na lista da Interpol. A prisão preventiva contra ele havia sido decretada no fim da manhã de sexta-feira, 14. O prazo para que se entregar terminou às 14 horas deste sábado, 15. Sua defesa informou que ele deve se entregar neste domingo em Goiás. A data foi fixada no final da tarde deste sábado, em negociação com a defesa
“Já foi concedido um prazo, buscas já foram realizadas. Estão reunidos todos os elementos para que ele seja considerado foragido da Justiça”, disse o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal, Luciano Miranda Meireles.
A Polícia Civil suspeita que ele esteja fora de Goiás. Nas negociações realizadas neste sábado, uma das hipóteses era de que agentes fossem até o local onde ele está para fazer a prisão e o transporte até Goiás. Em virtude da idade (ele tem 76 anos) e da natureza do crime de que é acusado, a expectativa é de que ele fique em uma cela individual.
A prisão preventiva contra o líder espiritual foi decretada no fim da manhã de sexta. Integrantes do grupo destacado para fazer a investigação e as negociações, no entanto, ainda colocam em dúvida se o acerto será de fato cumprido. Para eles, a defesa do médium deverá aguardar o resultado do pedido de habeas corpus.
Se a medida for concedida antes de ele se apresentar, seria possível evitar um desgaste ainda maior para o médium, que atrai anualmente para a cidade goiana de Abadiânia 120 mil fiéis – 40% deles estrangeiros.
O advogado de defesa de João de Deus, Alberto Zacharias Toron, no entanto, afirmou em entrevista que seu cliente vai se entregar antes da apresentação do habeas corpus. A ação será proposta na segunda.
Uma vez preso, João de Deus seria levado para Goiânia, onde deve acontecer o interrogatório. “Será longo, detalhado. Há um grande número de relatos e informações que precisam ser questionadas”, afirmou o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes de Almeida. O delegado, porém, disse não descartar que o médium não esteja mais em Goiás.
Desde que a prisão preventiva foi decretada, a Polícia Civil afirma já ter procurado João de Deus em mais de 20 endereços. Os locais já investigados estão sob sigilo. “Há pontos que também estão sendo vigiados”, disse Almeida.
Só após ele se entregar, a defesa de João de Deus deverá apresentar o pedido de habeas corpus. A expectativa é que a defesa explore o que o advogado Alberto Zacharias Toron classifica como “pequeno número de depoimentos” usados pela Justiça para fundamentar a decretação da prisão preventiva, o que poderia indicar fragilidade de provas.
Há a possibilidade, ainda, de que a espiritualidade atribuída a João de Deus seja usada na argumentação. Para a defesa, a intolerância religiosa poderia incentivar o grande número de denúncias, muitas das quais ainda não formalizadas.
A tendência é de que os advogados procurem mostrar o médium como um homem rústico, simples, de personalidade multifacetada e que, muitas vezes, seria guiado por recomendações de guias espirituais. Em suma, viveria com uma lógica pouco convencional.