São Paulo, SP 11/1/2022 – Temos alta incidência diária de CB no espaço aéreo nacional, tornando esse fenômeno meteorológico o principal motivo de desvios solicitados pelas aeronaves.
Apesar das tempestades serem inimigas da aviação, o Brasil possui tecnologias avançadas para detectar problemas climáticos e garantir a segurança dos voos em todas as regiões do país.
O grande volume de chuvas, muitas em forma de tempestades, que atingiram o Brasil nos primeiros dias do ano deixaram um rastro de destruição e muita apreensão sobre o que o verão ainda reserva para os brasileiros. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o acumulado de chuvas em estados da região Sudeste, e alguns do Norte e Nordeste atingiram 200 milímetros nos primeiros dias do ano. A intensidade das precipitações acende alerta das autoridades, especialmente os das defesas civis dos estados, e dos aeroportos.
O mau tempo costuma ser responsável pelo cancelamento de voos em todo o mundo, entretanto, para a tranquilidade de quem ainda vai aproveitar as férias de janeiro para viajar, novas tecnologias e investimentos em softwares e sistemas de monitoramento têm aumentado a segurança dos voos, mesmo em condições meteorológicas adversas. No país, as torres de controle – e consequentemente, as empresas aéreas – conseguem dados sobre as condições do tempo de forma mais rápida do que em anos anteriores. Os alertas possibilitam modificar rotas ou até mesmo o adiamento do voo até que as condições do tempo melhorem.
Uma das tecnologias utilizadas no país para garantir a segurança dos voos é o Sistema de Tempo Severo Convectivo (STSC), criado para detectar as nuvens do tipo Cumulonimbus (CB), capazes de gerar descargas elétricas atmosféricas em seu processo de desenvolvimento na forma vertical, chegando a atingir alturas superiores a 15 quilômetros. O fenômeno é considerado um dos mais perigosos para a aviação e costuma ocorrer em todas as regiões do Brasil.
“O aparecimento das nuvens desse tipo é perigoso porque elas podem resultar na formação de chuva, granizo, turbulência, formação de gelo na fuselagem do avião e severas correntes ascendentes e descendentes que podem gerar rajadas de vento significativas junto à superfície”, explica Bruno de Castro Fernandes, que atua há mais de 17 anos na implantação de tecnologias para a segurança da aviação aérea.
Com o STSC em operação e com suas informações utilizadas pelos sistemas de Controle de Tráfego Aéreo e Gerenciamento de Fluxo, é possível integrar e qualificar os dados de descargas elétricas atmosféricas e de radares meteorológicos. Com as informações sobre a formação das nuvens CB centralizadas e disponibilizadas com antecedência, torna-se possível gerenciar desvios de rota com maior antecedência e precisão.
“Temos alta incidência diária de CB no espaço aéreo nacional, tornando esse fenômeno meteorológico o principal motivo de desvios solicitados pelas aeronaves. Os desvios ocasionados por essas formações, se não forem devidamente gerenciados, podem aumentar significativamente o tempo de voo, aumentar o consumo de combustível e a emissão de CO2, sem contar no desconforto dos passageiros”, completa Fernandes.
Em outubro do ano passado, um voo entre Campinas e Presidente Prudente, em São Paulo, sofreu fortes turbulências, que duraram mais de uma hora, apavorando passageiros. Segundo o Climatempo, a formação das nuvens cumulonimbus pode ter sido responsável pelo mau tempo. O piloto precisou desviar a rota para São José do Rio Preto. A previsão de tempestade na rota do voo chegou a ser notificada pelo Inmet na manhã do mesmo dia da decolagem e não se sabe por que a companhia decidiu pela manutenção do cronograma de voo.
Unificação das informações de radares meteorológicos para maior segurança aos voos
Outra tecnologia desenvolvida para utilização pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) é o Sistema WebRadar, que começou a ser testado em 2021. O sistema vai unificar as informações dos radares meteorológicos instalados no país via rede, melhorando a análise de dados, com visualização 3D para análise da estrutura e rastreio de sistemas convectivos, detecção de microburst (fenômeno que provoca rajadas de vento que podem ultrapassar os 200km por hora) e de granizo, dentre outras informações.
“O desenvolvimento do sistema WebRadar buscou a centralização do controle e da operação dos radares de meteorologia via rede a fim de possibilitar o acesso aos dados meteorológicos disponibilizados pela Rede de Radares Meteorológicos e demais sistemas e produtos afins. Desta forma, o sistema provê a análise desses dados para tomada de decisão em relação ao melhor uso da informação e reduz a dependência e a interferência humana na geração de produtos de aplicação meteorológicos”, atesta Bruno Fernandes, que participou do desenvolvimento do sistema para o governo brasileiro.
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