Eletrocardiograma foi um dos exames menos realizados durante a pandemia

São Paulo 21/12/2021 – Alguns pacientes chegando aos hospitais com quadros avançados de infarto, Acidente Vascular Cerebral, processos infecciosos.

Segundo o estudo, 58% dos pacientes deixaram os exames para depois

Inúmeras consultas, cirurgias eletivas e exames foram adiados durante a pandemia da covid-19, pelos pacientes, devido ao medo de se exporem em um ambiente hospitalar. Pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e pela Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL) revela isso e salienta esse cenário de postergação tanto na prevenção com idas ao médico para acompanhamento das doenças e prevenção pelos exames laboratoriais, como pelos cuidados com uma vida mais saudável.

Durante a pandemia, 43% dos entrevistados reduziram suas consultas médicas. Somente 2% passaram a se consultar mais, sendo que destes 33% atribuíram o motivo à ansiedade, 33% ao agravamento da diabetes e outros 33% para realizar acompanhamento de exames ou de procedimentos de saúde. Outros 55% mantiveram sua frequência de visitas a médicos.

Junto com a menor ida ao médico está também a redução dos exames laboratoriais. 58% decidiram adiar ou fazer com menor frequência os exames durante o período da pandemia. Apenas 1% aumentou esta frequência e 41% disseram não ter mudado esta rotina.

Ainda entre os que adiaram ou diminuíram a frequência, 47% receberam indicação do próprio médico, mas os outros 53% tomaram a decisão eles próprios.

Considerando uma lista de 13 tipos de exames laboratoriais, os exames mais adiados ou feitos em menor frequência, de acordo com os próprios pacientes, são: sangue (30%), mamografia (27%), preventivo de colo de útero e urina (24%), eletrocardiograma (23%). Os exames que tiveram sua rotina de realização menos alterada são: raio X (91%), ressonância magnética (90%) e tomografia computadorizada (90%).

Dos exames que sofreram algum tipo de mudança na sua frequência de realização ou mesmo o seu adiamento, os que tiveram mais influência médica nesta decisão foram ressonância magnética (57%) e tomografia computadorizada (57%). Já os que tiveram a decisão do próprio paciente, destacam-se os exames de raio X (100%), fezes (77%) e mamografia (72%).

Finalmente, entre os que adiaram a realização de algum exame ou mesmo reduziram a sua frequência de realização, a maior parte admite que isso acabou deixando suas doenças descontroladas, que atrasou o início do tratamento, dificultou seu diagnóstico ou que não sabiam se a doença estava sob controle ou não.

“Algumas consequências já foram observadas ao longo dos meses. Alguns pacientes chegando aos hospitais com quadros avançados de infarto, Acidente Vascular Cerebral, processos infecciosos; ou até mesmo vindo a falecer em domicílio. Outra parcela deixou de monitorar por um período de meses suas doenças crônicas e outros receberão cuidados apenas quando a pandemia acabar – visto que ainda continuam reclusos”, comenta Carlos Eduardo dos Santos Ferreira, presidente da SBPC/ML.

Em relação ao controle da doença, é clara a percepção de que durante a pandemia a doença ficou ligeiramente menos controlada. Antes da pandemia, 95% diziam que sua doença estava totalmente controlada (55%) ou um pouco controlada (40%). E agora, durante a pandemia, esse índice cai para 80%: 41% acham que está totalmente controlada e 40% que está um pouco controlada. E 20% acham que, agora, ela está totalmente descontrolada (2%) ou um pouco descontrolada (18%). Antes da pandemia somavam 5% os que pensavam desta forma. E o estresse e ansiedade, causados por conta da pandemia, são as principais causas deste descontrole.

“O reflexo da covid-19 na saúde dos brasileiros será sentido ao longo dos próximos anos, pois a prevenção foi deixada de lado, e causará um impacto inevitável, principalmente no caso das doenças crônicas que necessitam de constante monitoramento”, comenta Carlos Eduardo Gouvêa, presidente executivo da CBDL.

Hábitos saudáveis

Sobre a manutenção de hábitos saudáveis, também houve uma piora. Foi registrado um aumento de 7 pontos percentuais, de 19% para 26%, no número de pessoas que admitem ter a vida pouco ou nada saudável antes e depois da pandemia. O sentido inverso, foi uma queda de 10 pontos percentuais, passando de 43% para quem considerava ter estilo de vida muito saudável e saudável para 33%.
Quando se fala da prática de atividades físicas regulares, 31% estão fazendo menos do que antes da pandemia, sendo que destes, 22% interromperam completamente. Enquanto apenas 2% passaram a se exercitar mais, 7% mantiveram suas atividades e a grande maioria, 49%, não praticavam e continuam sem praticar.
O consumo alimentar aumentou consideravelmente durante a pandemia. 51% das pessoas admitem estarem comendo mais ou muito mais, em comparação ao período antes da pandemia. Somente 10% reduziram a ingestão alimentar, sendo 3% muito menos e 39% continuam se alimentando igualmente.

Covid-19

Sobre o exame da Covid-19, ainda existe uma parcela pequena da população que fez o exame e 67% dos entrevistados não fizeram nenhum teste para covid-19. Entre os 33% que fizeram, 61% foi por indicação médica e apenas 39% por iniciativa própria.

Amostra e Metodologia

Foram entrevistadas 200 pessoas, em São Paulo e Rio de Janeiro. Sobre os entrevistados desta pesquisa, pode-se dizer que: 53% são homens e 47% são mulheres, a idade média é de 46 anos, sendo que 37% têm de 31 a 50 anos, 22% de 18 a 30 anos e 44% têm de 51 a 75 anos. Quase a metade (ou 49%) tem ensino médio completo e 32% graduação completa. 59% são de classe C, 16% de classes D/E e outros 26% são de classes A/B.

Um pouco mais da metade (ou 65%) dos entrevistados tem algum plano ou seguro de saúde. Esse índice aumenta entre as classes A/B (82%). 35% não o possuem e são, principalmente, os de classes D/E (61%).

De modo geral, 6 em cada 7 entrevistados (ou 86%) tem alguma das nove doenças questionadas: Diabetes (33%), Cardiovascular (26%), Tireoide e Gástrica (iguais 12%), Renal (8%), Neurológica (7%), Câncer (6%), Reumática (6%) e Aids (1%). Apenas 14% não possuem nenhuma delas. Em média, os entrevistados convivem com suas doenças há nove anos.

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